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domingo, 21 de agosto de 2011

Comer fruta é tarefa escolar

Mudar cardápio de crianças é preocupação em redes de ensino. Brasileiro ingere menos produtos do que o recomendado

Publicado em 20/08/2011, às 11h53

Verônica Almeida

Uma vez por semana as crianças comem frutas e ganham picolé / Foto: Luciana Ourique/JC Imagem

Uma vez por semana as crianças comem frutas e ganham picolé

Foto: Luciana Ourique/JC Imagem

No Instituto Capibaribe, tradicional escola particular fundada há 57 anos no Recife, a merenda é obrigatoriamente coletiva e inclui, todo dia, suco natural e uma fruta da estação. Fazer crianças e adolescentes comerem mais frutas, desejo de muitas mães, é objetivo partilhado por colégios diante de um problema até inacreditável num País considerado o terceiro maior produtor do mundo desse tipo de alimento: o baixo consumo pela população.

A Análise do Consumo Alimentar no Brasil, divulgada há 20 dias pelo IBGE e o Ministério da Saúde, aponta que 90% dos moradores de todas as regiões do País comem frutas, legumes e verduras em quantidade diária abaixo da recomendada. Por brasileiro, são 97,4 gramas de refrigerante ingeridas diariamente, contra 20,6 gramas de laranja e 18,6 gramas de banana, por exemplo. A indústria Nestlé, que lançou este mês campanha a favor de um café da manhã balanceado para as crianças, também constatou em pesquisa que mães recifenses e de outras três grandes metrópoles brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre) gostariam que os filhos comessem mais frutas.

"Gosto de fruta porque fortalece, é mais saudável", surpreende Vitória Xavier, 10 anos, aluna da 4ª série do Instituto Capibaribe, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. Na última quarta-feira, do lanche composto por uvas verdes e cachorro-quente (um dos pratos prediletos da criançada), Vitória gostou mais da terceira opção: o suco de cajá. Banana, goiaba e acerola também são frutas incluídas na rotina da menina, que é estimulada também em casa a consumir alimentos mais saudáveis.

Mônica Antunes, diretora do instituto e educadora há 40 anos, acredita que educação alimentar é compromisso das escolas também. No Capibaribe, desde a educação infantil os pequenos aprendem na sala de aula e na hora do recreio o valor da boa alimentação. E não é coisa de momento. Nutricionista há 20 anos da escola, Cristiana Menezes reforçou essa lição lá mesmo, quando ainda era aluna. "Fui vítima", diz, brincando. Mãe da escola também, ela acredita que a obrigatória merenda coletiva é um ótimo exercício para os estudantes. "Uma provocação, o aluno é levado a experimentar a pluralidade", afirma. A variedade é o segredo dos lanches, que incluem pão de queijo, pizza e bolo na medida certa, alternados pela nutritiva culinária regional: cuscuz, macaxeira, inhame e tapioca.

"Há estudos mostrando que o alimento às vezes precisa ser apresentado 15 vezes à criança para que ela possa aceitá-lo", ensina a nutricionista Édla Karina Cabral, da Escola Encontro, outra da rede privada que incentiva o consumo de frutas. O colégio já fez campanhas contra o açúcar e agora desenvolve o projeto Fruta Itinerante. Uma determinada fruta é apresentada a cada turma da educação infantil (dos 2 aos 5 anos), para que os alunos descubram cor, cheiro e sabor da novidade. "Em muitas famílias não existe o hábito de variar frutas. Outro dia um aluno de 7 anos revelou que nunca havia visto uma pitomba", conta.

Para Edla, quanto mais cedo for o contato da criança com a fruta, maior será o consumo no resto da vida. "Deve acontecer em casa e na escola", ensina. A forma de apresentar o alimento à criança é fundamental. "É comum os pais associarem ao lazer, ao passeio, o fast-food. A fruta é apresentada no momento da bronca, em casa", alerta.

A nutricionista Sílvia Cozzolino, da Universidade de São Paulo, diz que todas as seis refeições recomendadas para o dia devem ser balanceadas. No café da manhã, por exemplo, um cereal, leite e fruta é a combinação ideal. A pediatra Analíria Pimentel, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, lembra que a prevenção de futuras doenças crônicas deve ser o mais cedo possível. A lógica do bebê saudável condena o consumo exagerado de açúcar, sal e industrializados.

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